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Jornal O Vale | "Quais os arrependimentos dos doentes terminais?"

Por Paula Maria Prado
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

 

Para ser feliz, pense na morte. A máxima que parece cruel é, na verdade, um incentivo para que todos vivam de intensamente, sem supervalorizar aquilo que é desnecessário, nem deixar de lado aquilo que realmente importa.

Entre os maiores arrependimentos daqueles que estão em fase terminal está o fato de não ter vivido certas experiências , deixar de estar com quem queria ou não dizer o que deveria ter dito. Aliás, isso está presente não só para quem está partindo mas para quem está participando dos momentos finais de quem ama.

A conclusão é da psicóloga Paula Cavalcanti, do hospital viValle, em São José. Ela é responsável pela equipe de psicólogos do local e faz atendimento e acompanhamento de pacientes internados e seus familiares, principalmente aqueles que não tem chance de cura.

Em meio a pesquisa sobre felicidade, OVALE convidou-a a bater um papo conosco para saber como chegar ao fim da vida leve e satisfeito com tudo o que viveu ao longo dos anos. Confira! 

Como é o seu trabalho?
 O trabalho em cuidados paliativos consiste em uma abordagem multidisciplinar que visa a promoção de qualidade de vida para pacientes e familiares que estão diante de graves doenças. 
Buscamos a prevenção e o alívio do sofrimento, tanto do ponto de vista de controle de sintomas físicos, quanto no que diz respeito a questões psicossociais e espirituais. Trabalho há 15 anos em hospitais e não me vejo fazendo outra coisa.

Quais são os principais arrependimentos das pessoas?
No fim da vida, fazer uma auto-avaliação costuma fazer parte intrínseca do momento. Quem tem a capacidade de, ao longo da vida normal, fazer essa análise constantemente, consegue ser agente da própria vida, fazendo as mudanças necessárias para viver bem cada momento. O que acontece é que nos esquecemos de fazer isso, e só quando estamos na iminência de perder o que temos é que paramos para pensar.
Os maiores arrependimentos estão ligados ao que deixei de experimentar, com quem deixei de estar, o que deixei de dizer e que deveria ter dito. E, isto está presente tanto em quem está partindo como também em quem está participando dos momentos finais de quem ama.

Então os discursos são frequentes. Sim. Eu costumo dizer que não há peso emocional maior para se carregar do que a culpa. Viver o luto acrescido de sentimento de culpa é muito mais árduo e penoso. Trabalhamos para estimular tanto pacientes quanto familiares para que possam resgatar, ainda em vida, estes vínculos. Algumas vezes, ainda há tempo para isso. Em casos de perdas súbitas, repentinas, não é possível. Então temos dois caminhos a seguir, ou vivemos atormentados pelo sentimento do que deveríamos ter feito ou traçamos uma meta produtiva a partir daí para que seja possível seguir com mais qualidade nas relações.

 

Qual seria a 'chave' para a felicidade?
No meu ponto de vista, você só consegue viver com qualidade quando se conhece e tem a capacidade de entender o que é qualidade para você. 
O que é importante para mim, o que é uma vida bem vivida, pode não ter o mesmo significado para você. O exercício frequente de refletir sobre como está a sua vida, como você gostaria que estivesse e o que você acredita precisar fazer para alcançar o que deseja é importantíssimo.
É claro que se programar para o futuro, ter metas faz parte de uma existência saudável. Mas não é possível viver em função do futuro, porque a única coisa que temos de fato é o presente, este exato momento.
Vejo muitas pessoas esperando para serem felizes; "eu vou ser feliz quando comprar a minha casa", "quando me aposentar, "quando chegar a sexta-feira...". Mas quem garante que chegaremos lá? O momento de ser feliz é agora! Pode parecer clichê, mas é, sem dúvida, o maior aprendizado que temos convivendo com pessoas no fim da vida.

O que aprendeu nessas vivências? O que levo para a minha vida pessoal de maneira mais intensa é a percepção de que a única coisa que tenho é este momento, e que preciso viver da melhor forma possível o que tenho hoje, sem supervalorizar o que não é preciso, nem desvalorizar o que é importante. Mas isto é um processo de auto-análise. Eu sei o que é importante, o que tem valor para mim. Cada pessoa tem de descobrir o que é importante para si.

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